Buga, 30 anos depois da
glória na Ilha do Governador
Raimundo Marinho
Jornalista
O menino simples, de família humilde, foi o único livramentense (de Livramento de Nossa Senhora, Bahia)
a brilhar, de verdade, até agora, em gramados do Brasil e do exterior,
como jogador profissional de futebol. Nem João Santos, anos 1990 e nem
Maurinho (Mauro Silva), hoje no futebol português, podem se comparar a
ele.
José Alberto dos Santos, 54 anos, de tanto pedir
a bênção ao tio Buganês, conhecido por Buga, acabou herdando dele o
apelido. Mas onde está Buga, o herói da histórica vitória da Portuguesa
carioca sobre o campeão Flamengo, em jogo memorável, no campo da Lusa na
Ilha do Governador (RJ), em 1982?
Está em Livramento, onde trabalha carregando e
descarregando caminhões. Em outubro de 2012, completaram-se 30 anos
daquele jogo, onde fez dois gols, um deles o da vitória. Só o presidente
do clube, Manoel do Céu Gomes, acreditava no time e prometeu um prêmio
acima de Cr$ 15 mil a cada jogador, em caso de vitória.
Lutava para fugir da segunda divisão, o que nem a
vitória emblemática evitou, mas Buga, aos 23 anos, ficou na história do
time e do futebol brasileiro. Mas isso é quase que totalmente ignorado
em sua terra. Nem nos campos de pelada o antigo artilheiro é visto mais,
por problemas no joelho.
COMEÇOU EM SALVADOR
O herói da torcida lusa do Rio começou
profissionalmente no Botafogo de Salvador e teve atuação destacada em
outros times, até fora do país. Diferente de hoje, naquele tempo, os
contratos eram rígidos e os jogadores explorados pelos clubes até não
servirem mais.
O atleta ficava preso ao time que o contratava,
recebendo baixos salários. Isso, segundo Buga, limitava a carreira e as
possibilidades de ganhar dinheiro, ao contrário de hoje.
Às vezes, como no seu caso, ficavam sem jogar,
mofando e envelhecendo no banco, mas não eram liberados. Com isso, o
tempo passava e a carreira acabava, sem a recompensa merecida. Essa,
aliás, é uma das poucas queixas de Buga. Mas lembra do “bicho” pago pela
vitória contra o Flamengo, em 1982, de Cr$15 mil.
Confessa que não ficou rico com o futebol, mas
também não lamenta. Perguntado sobre o que restou, em termos
financeiros, daqueles tempos áureos, respondeu que nada. “A não ser a
ajuda que pude dar para minha mãe, o que para mim foi tudo”, ressaltou.
GOL “E O VENTO LEVOU”
No jogo memorável, na Ilha do Governador, Buga
marcou o gol da vitória, aos 30 minutos da etapa final, em cobrança de
falta. Conta que aproveitou o vento a favor, que era típico do estádio
local, na Ilha. Por essa razão, batizou o gol decisivo de “e o vento
levou”.
Pouco antes, o grande Zico, em um gol olímpico,
um dos dois únicos da sua carreira, havia empatado a partida. E tudo
indicava que somente um “e o vento levou” poderia salvar a Lusa. E ele
veio, dos pés de Buga, para surpresa dos flamenguistas e o delírio da
torcida lusa!
O Buga ou José Alberto dos Santos de hoje, filho
de “Zé Cearense” (José Virgínio) e D. Almerinda Francisca dos Santos,
pouco lembra o atleta vigoroso dos anos 1980, mas os poucos
livramentenses que ainda se lembram da sua carreira tem muita reverência
por ele.
ÚNICO A IR ADIANTE
Começou como amador, no Estádio Dr. Edilson
Pontes, pelo Cruzeiro. Faziam páreo com ele, na época, entre outros,
Chico de Beto, Tadeuzinho, Albercir, Caburé, Toe de Beto, Deda. Mas só
ele foi adiante. Em 1977, aos 19 anos, passa a profissional, no Botafogo
de Salvador.
Jogou no Francana (SP), Estrela (ES), Guarapari
(ES), Campo Grande (RJ), Portuguesa (RJ), Tuna Luso (Belém-PA), Boa
Vista (Portugal), Benfica (Portugal), Guaratinguetá (SP). Encerrou a
carreira no Colatina (ES), em 1988, aos 30 anos de idade.
Vive solteiro, sem filhos, e continua pagando o
INSS, na esperança de um dia se aposentar, seu principal plano de vida,
no momento.
(Colaborou para elaboração desta matéria, enviando dados e material, o professor Jânio Soares Lima, de Livramento)
Veja como o repórter Igor Santos lembrou, recentemente, no Globo On Line, aquela partida na Ilha do Governador>>
Fonte visitada no dia 17/02/2013: http://mandacarudaserra.com.br/